quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A história de um líder


O socialista tinha 49 anos e estava em terceiro lugar na corrida presidencial, com 8% das intenções de voto




Eduardo Campos
O pernambucano era considerado um dos políticos mais promissores do País
FOTO: DIVULGAÇÃO/PSB
Eduardo Campos
Renata, Eduardo e os cinco filhos. Ontem, ela repetia aos familiares que a tragédia “não estava no script
O corpo do ex-governador e candidato à Presidência da República pelo PSB, Eduardo Campos, será enterrado no mesmo túmulo do avô, o ex-governador Miguel Arraes, no cemitério de Santo Amaro, na zona norte do Recife. Ele era filho de Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), e do escritor Maximiano Campos (1941-1998)
Ainda não há definição sobre data e hora do sepultamento. A informação foi dada pelo único irmão de Campos, Antonio Campos, em rápida entrevista, em frente à casa do candidato.
"Perdi um irmão muito amado, um grande amigo", disse ele, ao contar ter conversado com Campos às 6h59, antes dele viajar para Santos. "Ele estava feliz com a participação positiva no Jornal Nacional", avaliou Antonio. Campos havia dado entrevista na bancada do Jornal Nacional na noite de ontem. "Meu irmão morreu lutando pelos seus ideais, pelo que ele acreditava", disse Antonio, emocionado.
"Eduardo deixa esse legado de luta para melhorar, para refletir o Brasil e fazer uma reflexão sobre o destino do País", concluiu o irmão de Campos.
O socialista morreu na manhã de ontem quando o avião em que voava com assessores caiu sobre um prédio em Santos (SP). Campos tinha 49 anos e estava em terceiro lugar na corrida presidencial. Tinha 8% das intenções de voto, de acordo com o Datafolha.
Ex-governador de Pernambuco e ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula, era considerado um dos políticos mais promissores de sua geração. A ex-senadora Marina Silva (PSB), candidata a vice-presidente, é a cotada para assumir seu lugar na cabeça da chapa.
O partido terá dez dias para decidir e anunciar a substituição. A presidente Dilma Rousseff, que disputa a reeleição pelo PT, e o candidato do PSDB, Aécio Neves, cancelaram suas agendas ao receber a notícia.
As causas do acidente ainda não foram confirmadas pela Aeronáutica. O avião Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, voava do aeroporto Santos Dumont, no Rio, para a base aérea do Guarujá (SP). Campos teria três compromissos de campanha em Santos. Além do presidenciável, estavam a bordo quatro assessores: Alexandre Severo (fotógrafo oficial da campanha), Marcelo Lira (cinegrafista), Pedro Valadares (assessor do candidato) e Carlos Percol (assessor de imprensa). Também morreram o piloto e o copiloto da aeronave.
Coincidência trágica
Campos morre num 13 de agosto, mesmo dia em que o avô, Miguel Arraes, faleceu em 2005, aos 88 anos.
O avião no qual ele viajava caiu sobre um prédio na rua Vahia de Abreu, no bairro do Boqueirão, região central de Santos. Sete pessoas que não estavam a bordo ficaram feridas e foram encaminhadas para um hospital da região.
A fiação de todas as vias da região foram desenergizadas para facilitar o trabalho de resgate e rescaldo do incêndio provocado pela queda do avião.
Segundo a Força Aérea Brasileira(FAB), perto das 9h50, o piloto da aeronave informou que tinha pouca visibilidade para pousar no Guarujá e arremeteu a aeronave. Logo após, a torre perdeu contato com o avião -que tem capacidade para 12 pessoas, em configuração padrão.
O avião saiu do Rio de Janeiro em um jatinho Cessna 560XL Citation às 9h30, com destino ao Guarujá, cidade vizinha de Santos no litoral paulista. Campos cumpriria agenda em Santos com sua candidata a vice, Marina Silva (PSB).
Segundo o presidente do PSB-SP, Márcio França, que aguardava Campos na base aérea do Guarujá, a aeronave arremeteu. "Perdemos contato com o avião depois disso", afirmou França. Depois disso, durante cerca de uma hora, houve uma troca incessante de telefonemas entre integrantes da campanha, jornalistas e autoridades aeronáuticas para tentar localizar Campos.
Estado de choque
A ex-senadora Marina Silva, candidata a vice na chapa de Campos, estava anteontem no Rio de Janeiro e embarcaria ontem no avião que caiu ao tentar pousar no Guarujá (SP). Na última hora, Marina mudou a rota e decidiu embarcar em um avião de carreira com assessores.
Ontem, após saber da notícia, ela decidiu ir até Santos onde fez um pronunciamento e disse ter ficado em estado de choque. Políticos e parlamentares aguardavam por Campos no Guarujá.
Perfil obstinado
O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, era um gestor obstinado e negociador político hábil e duro. Campos, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, contava com a propaganda na TV e no rádio para emplacar sua plataforma da "nova política".
Herdeiro político do lendário Miguel Arraes, Campos teve seu aprendizado nos palanques cedo, quando participou ativamente da eleição do avô para o governo de Pernambuco em 1986.
Depois disso, recém-formado em economia, Eduardo Campos foi chefe de gabinete de Arraes, partindo daí para construir sua própria carreira política.
Foi eleito deputado estadual e federal, foi o ministro mais jovem do governo do então presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva e se elegeu governador duas vezes.
Sem desistir do Brasil
Algumas das últimas palavras dirigidas ao público brasileiro foram ditas na noite de anteontem, em entrevista concedida ao Jornal Nacional, da Rede Globo.
Nelas, o socialista exaltou sua crença no País. "Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa. Para isso, é preciso ter a coragem de mudar, de fazer diferente, de reunir uma agenda. É essa agenda que nos reúne. A agenda da escola em tempo integral para todos os brasileiros, a agenda do passe livre, a agenda de mais recursos para a saúde (...) O Brasil tem jeito. Vamos juntos", conclamou Campos, ao fim da sabatina.
Mulher mostra força ao falar com amigos do casal em Recife
Recife. Mulher do candidato à Presidência da República Eduardo Campos, Renata Campos, ao lado dos cinco filhos, recebeu amigos, familiares e políticos em sua casa na manhã de ontem.
“Não estava no script”, comentava ela ao abraçar as pessoas que a visitavam, muitas vezes chorando. Com cada um ela conversava e compartilhava a alegria de Campos com a sua performance na entrevista da bancada do Jornal Nacional na noite de anteontem. “Fui lá e fiz um gol”, disse ele à mulher.
Renata recebeu a todos, de pé, e se revezava com os outros filhos nos cuidados com o caçula Miguel, de sete meses de idade. 
“Ela está firme como uma rocha”, resumiu o ex-secretário estadual de Imprensa de Campos, Evaldo Costa, amigo da família, ao falar sobre a postura de Renata diante da tragédia que se abateu sobre a família.
O presidenciável era casado com a economista e auditora licenciada do Tribunal de Contas de Pernambuco Renata Campos, com quem teve cinco filhos - Maria Eduarda, João Henrique, Pedro Henrique, José Henrique e Miguel, que nasceu no começo de 2014 e foi diagnosticado com síndrome de Down. 
O romance entre os dois começou na adolescência, quando ele tinha 15 anos e ela, 13, no Recife (PE). Ela é sobrinha do escritor Ariano Suassuna. Renata era apontada como a pessoa mais influente na carreira de Campos.
arte
FONTE:DN

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